terça-feira, 10 de junho de 2008

Osteoartrite e atividade física

Exercício como tratamento para Osteoartrite - Revisão


Osteoartrite (inflamação articular) é uma doença crônica e que afeta mais freqüentemente a articulação do joelho (Felson et al. 1987). Os pacientes geralmente reportam dor, fraqueza muscular, imobilidade e instabilidade articular, assim como redução em sua capacidade física. Todo esse quadro leva os indivíduos a um decréscimo na qualidade de vida. Nesse contexto, o exercício físico pode atuar de duas maneiras: primariamente (reduzindo a incidência da doença) e secundariamente (diminuindo sua progressão) (Bennell & Hinman, 2005). Assim, o objetivo dessa revisão é mostrar as recentes evidências acerca do tratamento e da prescrição de exercício para indivíduos portadores de osteoartrite.

Como é uma doença atualmente sem cura, o tratamento se baseia no alívio da dor e na melhora da função da articulação atingida (van Baar et al. 1998).

É comum encontrarmos na literatura trabalhos demonstrando benefícios tanto de exercícios aeróbicos como de força (conhecido popularmente como musculação). No que se refere ao treinamento de força, encontram-se referências de contrações isométricas, isotônicas, isocinéticas, concêntricas, concêntricas-excêntricas e dinâmicas. Relata-se melhoras na força muscular, dor, função e qualidade de vida. Contudo, não há evidencias de que o tipo de contração influencie os benefícios, mas sim de que a eficiência do treinamento é maximizada com a combinação de exercícios funcionais, de força e de flexibilidade. Frontera et al. (2001) enfatizam que contrações isométricas produzem menos inflamação e menor alteração na pressão articular, por isso, após uma fase inflamatória (em que o exercício deve ser cessado), essa seria a melhor estratégia a ser utilizada. Com a melhora dos sintomas, poderão ser incluídas contrações em diversas angulações e, gradualmente, utilizando contrações dinâmicas. Os exercícios aeróbicos também contribuem para alívio da dor e melhora a fragilidade articular, além de trazer os já conhecidos benefícios na capacidade cardiorrespiratória (Bennell & Hinman, 2005).

Ainda segundo Bennell & Hinman (2005), o treinamento de força parece trazer mais benefícios à articulação específica que os aeróbicos, sendo que estes trazem mais benefícios ao aspecto funcional em longo prazo. Com isso, torna-se necessária uma prescrição de exercícios individualizada, baseada na sintomatologia, problemas e necessidades do paciente.

Sendo a instabilidade articular causada por diversos fatores, como lassidão ligamentar, danos estruturais, fraqueza muscular, dor e alterações no controle neuromuscular, as estratégias a serem utilizadas vão depender bastante da individualidade do caso. Fitzgerald et al. (2002) sugerem exercícios em que as cargas provoquem uma instabilidade durante a execução, fazendo com que o sistema neuromuscular se adapte à nova exigência. Caso os ganhos de força e função articular se apresentem abaixo do esperado durante o treinamento, pode haver possibilidade da fraqueza muscular ser mediada pelo Sistema Nervoso Central ou reflexos inibitórios. Identificar esse quadro é difícil clinicamente e, para o tratamento, requer intervenções mais especializadas. Quando combinadas, algumas intervenções se mostram mais eficazes, como o exercício físico associado a dietas para perda de peso (caso seja necessário) e a medicamentos (Bennell & Hinman, 2005).

O exercício também é uma estratégia preventiva para a osteoartrite. Segundo Hootman et al (2004), mulheres com moderada e alta força isocinética no quadríceps possuem o risco reduzido entre 55% a 64% de desenvolverem osteoartrite nos joelhos. O aumento do volume muscular do quadríceps está associado ao volume da cartilagem tibial medial, assim como a uma redução na perda do volume cartilaginoso tibial lateral e medial (Cicuttini et al. 2005). Nesse mesmo estudo, Cicuttini et al. (2005), demonstrou essa relação entre massa muscular e cartilagem articular em outros locais, como em membros superiores, outros locais dos membros inferiores e com a massa muscular total.

Entretanto, mesmo com todos os benefícios relacionais à atividade física com relação à osteoartrite, reforça-se o fato da prescrição do treinamento ser individualizada, após uma avaliação médica, física e postural. Os desvios posturais devem ser considerados, visto que determinados exercícios podem acelerar a progressão da doença (Bennell & Hinman, 2005). Tomados esses cuidados, a atividade física torna-se uma estratégia de extrema importância no tratamento da osteoartrite.



Referências:



Bennell K, Hinman R. Exercise as a treatment for osteoarthritis. Current Opinion in Rheumatology 2005, 17:634—640

Cicuttini F, Teichtahl A, Wluka A, et al. The relationship between body composition and knee cartilage volume in healthy, middle-aged subjects. Arthritis Rheum 2005; 52:461—467.

Felson DT, Naimark A, Anderson J, et al. The prevalence of knee osteoarthritis in the elderly. The Framingham Osteoarthritis Study. Arthritis Rheum 1987; 30:914—918.

Fitzgerald G, Childs J, Ridge T, et al. Agility and perturbation training for a physically active individual with knee osteoarthritis. Phys Ther 2002; 82:372—382.

Frontera, Walter R., Dawson, David M., Slovik, David M. Exercício Físico e Reabilitação. Porto Alegre, Artmed, 2001

Hootman J, Fitzgerald S, Macera C, et al. Lower extremity muscle strength and risk of self-reported hip or knee osteoarthritis. J Phys Activity Health 2004; 1:321—330.

van Baar ME, Dekker J, Oostendorp RAB, et al. The effectiveness of exercise therapy in patients with osteoarthritis of the hip or knee: A randomized clinical trial. J Rheumatol 1998; 25:2432—2439.

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