Muito se
tem falado sobre dietas sem glúten. Mas você conhece os benefícios? Ou melhor,
conhece os malefícios do glúten?
O glúten
é uma proteína presente na farinha de trigo, centeio, cevada, malte, aveia e em
todos os produtos e derivados que contém esses nutrientes. Há algumas pessoas
que são sensíveis ao glúten e, em casos mais severos dessa sensibilidade, dá-se
o nome de doença celíaca.
A doença
celíaca é uma patologia autoimune, causada pela alta sensibilidade ao glúten
(formado por uma mistura de cadeias proteicas longas, a gliadina e a
glutenina). Na realidade não é uma alergia, como muitos pensam. Nosso organismo
não digere muito bem o glúten, ele acaba formando uma “pasta” no intestino,
porém em pessoas muito sensíveis, isso é entendido como um corpo estranho.
Então, o sistema imunológico acaba atacando essa pasta e, simultaneamente, as
células do intestino. Por isso é uma doença autoimune.
Na
realidade não é um glúten em si o vilão, é uma parte, a gliadina. Chama-se de
gliadina no trigo; hordeína na cevada; avenina na aveia; secalina no centeio. O
Malte também possui uma fração com glúten.
Nos EUA, 15-25% da população está procurando uma dieta livre de glúten (Di
Sabatino e cols, 2012). Segundo a Dra. Vikki Petersen, autora do livro “Gluten
Intolerance”, atualmente o glúten engloba 30-40% da proteína do trigo, quando
no passado era metade disso. Mesmo descartando a doença celíaca, uma boa parte
da população pode apresentar uma sensibilidade do glúten ou a síndrome do
intestino irritável. Por exemplo, no estudo de Kaukinen (2000),
dos 94 indivíduos que relataram desconforto intestinal após ingestão de alimentos
ricos em glúten, 63% dos pacientes relataram benefícios ao adotar uma dieta
livre do mesmo, apesar de não possuírem diagnóstico de doença celíaca. A tendência
da maior ingestão de glúten pela população tem levado a um aumento de
anticorpos antigliadina nos indivíduos, talvez explicando o porquê marcadores
inflamatórios tendem a diminuir após uma dieta livre de glúten.
Um grande estudo duplo-cego com 920 pacientes que se
queixavam de distensões abdominais os submeteram a quatro semanas de dieta
livre de glúten, seguida de uma semana com glúten. Um terço apresentou
sensibilidade clínica ao glúten (Carroccio e cols, 2011).
Aí você pode se perguntar “eu acho que não tenho problemas
com glúten, mas posso me beneficiar em pelo menos diminuir o glúten da minha
dieta?
Claro que sim! Por exemplo, o estudo de Capristo e
colaborados (2009) demonstrou aumento no colesterol bom (HDL) em indivíduos
celíacos após a retirada do glúten da dieta. Noutro estudo, em 2009, do mesmo
autor, a amostra apresentou uma diminuição nos níveis de grelina, o hormônio da
fome (e a grelina é secretada no estômago e no hipotálamo, não se relacionando necessariamente com a doença celíaca).
Eliminando o glúten da dieta, o índice de inflamação no organismo diminui. O metabolismo energético funciona mais adequadamente,
diminuindo a retenção de líquidos, a absorção dos nutrientes torna-se mais
eficiente. Também você notará uma diminuição de gordura e a prevenção de
doenças não transmissíveis, como complicações cardiovasculares (correlacionada
com o nível de inflamação do organismo).
Capristo E, Farnetti S,
Mingrone G, Certo M, Greco AV, Addolorato G, Gasbarrini G. Reduced plasma
ghrelin concentration in celiac disease after gluten-free diet treatment. Scand
J Gastroenterol. 2005 Apr;40(4):430-6.
Capristo E, Malandrino N, Farnetti S, Mingrone G, Leggio L,
Addolorato G, Gasbarrini G. J Clin Gastroenterol. Increased serum high-density
lipoprotein-cholesterol concentration in celiac disease after gluten-free diet
treatment correlates with body fat stores. 2009 Nov-Dec;43(10):946-9.
Carroccio A, Mansueto
P, Iacono G, Soresi M, D’Alcamo A, et al. Non-celiac wheat sensitivity
diagnosed by double-blind placebocontrolled challenge: exploring a new clinical
entity. Am J Gastroenterol (forthcoming), 2011.
Di Sabatino A,
Corazza GR. Nonceliac gluten sensitivity: sense or sensibility? Ann Intern Med 2012;156:309-11.
Kaukinen K, Turjanmaa
K, Mäki M, Partanen J, Venäläinen R, et al. Intolerance to cereals
is not specific for coeliac disease. Scand J Gastroenterol 2000;35:942-6.
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