Desde que iniciei a trabalhar no mundo do fitness, ouço sempre o mesmo tipo de reclamação: “o que faço com essa gordura localizada?”; “ah, essa barriguinha só vai sumir com lipo!”; “eu malho, faço dieta perfeitamente, e nada dessa gordurinha sumir!”. E a resposta é sempre a mesma: “pois é, a culpa é da genética!”.
Colocar a culpa na genética e colocar um fim no assunto é a solução mais simples... mas, o que seria a culpa da ganética, como isso se processa? Será só a genética? Não tem como fazer algo contra a tal genética?
Pois bem, antes de iniciar essa discussão, gostaria de uma breve e simples explicação bioquímica, que será o ponto chave para a compreensão desse texto.
Existem no tecido adiposo (gordura corporal) alguns tipos de receptores hormonais. Os chamados receptores beta se ligam com adrenalina e noradrenalina (catecolaminas) e provocam a mobilização de ácidos graxos dos adipócitos para a circulação, ou seja, causam a “queima de gordura”. Aproveito aqui para explicar que por isso não existem exercícios específicos para eliminar gordura localizada, visto que as catecolaminas caem na corrente sanguínea e atuam no corpo inteiro. Por outro lado, existem os receptores alfa (principalmente do tipo alfa 2), que também se ligam às catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), mas atuam no sentido de impedir a mobilização de gordura. Isso mesmo, enquanto você está se exercitando, há um receptor impedindo que se utilize aquela gordurinha indesejável como fonte de energia. E mesmo fazendo dieta, o receptor está lá!
Por exemplo, num estudo em que se empregou uma dieta hipocalórica (800 – 1000 Kcal/dia) em obesos, observou-se que a atividade antilipolítica dos receptores alfa aumentou, diminuindo a queima de gordura nesses indivíduos (Berlan, 1980). Para se ter uma idéia, até durante os exercícios físicos esses receptores atuam. Isso ocorre tanto em pessoas com peso ideal (Stich, 1999) quanto em obesos (Stich, 2000), embora essa atividade seja maior em obesos (Carpene, 1983). Ocorre também nos obesos uma maior desensibilização dos receptores beta (Lafontan, 2000). Essa desensibilização que ocorre esses receptores (aqueles que promovem a queima de gordura) fazem com que fiquem mais resistentes às catecolaminas, dificultando a mobilização de gordura durante o exercício.
As mulheres são ainda mais prejudicadas nesse sentido, pois o estrogênio (hormônio presente em grande quantidade no sexo feminino) aumenta o número dos receptores alfa, principalmente no tecido subcutâneo (logo abaixo da pele) (Pedersen, 2004). E especula-se que esta seja uma das causas das diferenças de depósitos de gordura entre homens e mulheres, visto que, em mulheres, a maior concentração de receptores alfa se encontram na região dos quadris e, em homens, no tecido subcutâneo abdominal (Mauriège, 1999)
Nesse momento o leitor deve estar se perguntando “esse cara só me coloca os problemas, eu estou vendo que vai ser impossível eu perder aqueles pneuzinhos que tanto me incomodam!”. Calma! Vou avisando que não sou adepto de fórmulas mágicas e que, para se construir um corpo bem desenhado, não se necessite de empenho, disciplina e, principalmente, persistência. Não existem milagres, apenas vou colocar maneiras de otimizar seu esforço. Eu sempre digo para as pessoas não se apoiarem apenas nos recursos que a indústria do fitness oferece atualmente, o básico (exercício, dieta e repouso) continuam indispensáveis.
Mas, enfim, existem algumas maneiras que podem ajudar você a perder aquelas gordurinhas tão difíceis de eliminar. Como os receptores alfa são os que inibem a mobilização de gordura em algumas regiões do corpo, por mais que se libere adrenalina, noradrenalina, cortisol ou o hormônio do crescimento entre em ação, a mobilização de gordura ficará prejudicada em alguns locais. Uma saída interessante é bloquear de alguma forma esses receptores, que são:
- O simples fato do indivíduo diminuir o peso de gordura faz com que diminua a ação dos receptores alfa, visto que sua ação é correlacionada com o tamanho das células adiposas (Carpene, 1983; Hellström, 1997; Mauriège, 1999; Polak, 2007; Jocken, 2008). Atenção! Ocorre uma diminuição, não inibe completamente.
- O treinamento físico também induz a uma menor atividade antilipolítica dos receptores alfa, além de aumentar a atividade dos receptores beta (Stich, 1999; Richterova, 2004);
- Há evidências de que ácidos graxos poliinsaturados bloqueiem a atividade dos receptores alfa, aumentando a atividade lipolítica no tecido adiposo durante o exercício (Hodgkin, 1991; Polak, 2007);
- Outras evidências também demonstram que antagonistas de receptores alfa adrenérgicos mantenham a atividade lipolítica mais alta, sem interferências na frequência cardíaca ou pressão arterial e sem efeitos colaterais nas doses adequadas (Galitzky, 1988; Lafontan, 1992; McCarty, 2002; Berlan, 2002).
Bom, as dicas estão aí. Observe que atividade física e dieta são binômios indispensáveis. Por isso, procure sempre profissionais competentes para orientação. A Equipe More e eu estamos à disposição!