terça-feira, 20 de outubro de 2015

Ingerir gordura para queimar gordura: Triglicerídeos de cadeia média

Triglicerídeos de cadeia média (MCTs ou TCMs)

Os triglicerídeos de cadeia media (TCM), presentes no óleo de coco e em alguns suplementos, por exemplo, são triglicerídeos com ácidos graxos com cadeia variando entre 6 e 10 carbonos. Os TCMs diferem dos outros triglicerídeos por serem relativamente solúveis em água e, com isso, rapidamente hidrolisados e absorvidos. Devido a essas propriedades, são menos suscetíveis à ação da lipase hormônio-sensível e à deposição no tecido adiposo (Clegg, 2010). Por isso, esses triglicerídeos são estudados por seus benefícios na saúde e no exercício.


Comparando com a suplementação de triglicerídeos de cadeia longa, St-Onge e cols (2003) demonstraram que o grupo suplementado com TCM apresentou maior perda de gordura, especialmente da gordura subcutânea, maior aumento do metabolismo e da oxidação de gordura. Igualmente comparando os ácidos graxos de cadeia longa e TCMs,  Zhang e cols (2009) encontraram maior diminuição da gordura corporal, triglicérides e LDL (colesterol ruim). No caso da amostra, composta por diabéticos, houve melhora na sensibilidade à insulina.

Dessa forma, os triglicerídeos de cadeia média se mostram uma opção de baixo custo e eficaz para perda de gordura e melhora da saúde.

Referências
Clegg ME. Int J Food Sci Nutr. 2010 Nov;61(7):653-79. doi: 10.3109/09637481003702114.
Medium-chain triglycerides are advantageous in promoting weight loss although not beneficial to exercise performance. Metabolism. 2007 Jul;56(7):985-91.

Han JR, Deng B, Sun J, Chen CG, Corkey BE, Kirkland JL, Ma J, Guo W. Effects of dietary medium-chain triglyceride on weight loss and insulin sensitivity in a group of moderately overweight free-living type 2 diabetic Chinese subjects.

St-Onge MP, Ross R, Parsons WD, Jones PJ. Medium-chain triglycerides increase energy expenditure and decrease adiposity in overweight men. Obes Res. 2003 Mar;11(3):395-402.

Zhang YH, Liu YH, Zheng ZX, Wang J, Zhang Y, Zhang RX, Yu XM, Jing HJ, Xue CY, Wu J. Medium- and long-chain fatty acid triacylglycerol reduce body fat and serum triglyceride in overweight and hypertriglyceridemic subjects. Zhonghua Yu Fang Yi Xue Za Zhi. 2009 Sep;43(9):765-71.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Intervenções Nutricionais - Parte 05 - Nível de treinamento

O nível de treinamento se mostra uma variável impactante na quantidade e duração da resposta anabólica após o treino de força. Comparados a indivíduos sedentários, pessoas treinadas apresentam tanto a síntese quanto a  degradação protéica atenuadas, resultando num menor turnover de proteínas (Phillips e colaboradores, 1999). 
A amostra do estudo de Tang e colaboradores (2008) treinou apenas uma perna por 8 semanas e a outra serviu como controle. Após a intervenção, uma sessão de treino provocou uma maior síntese protéica no membro não treinado, sendo que o treinado apresentou uma atenuação na duração (e não na magnitude). Com um desenho de estudo similar, Kim e colaboradores (2005) encontraram atenuação na síntese protéica na perna treinada, embora a síntese protéica miofibrilar permaneceu a mesma. Esse achado é similar ao de Wilkinson e colaboradores (2008), indicando um refinamento nas respostas das sessões de treino e uma maior eficiência na síntese protéica pós-exercício. 
Para umas revisão compreensível desse tópico e como o nível de treinamento afeta a resposta de síntese protéica e o seu curso, Damas e colaboradores (2015) realizaram uma revisão e concluíram que o treinamento não diminui a amplitude, mas a duração da resposta de síntese protéica. Essa informação pode nos dizer que, para maximizar a hipertrofia muscular em indivíduos treinados, deve-se ter muita atenção no período pós-treino quanto ao fornecimento de proteína.


Apesar dos inúmeros estudos relatando os benefícios da proteína nas respostas adaptativas ao treino de força, relativamente poucos estudos têm sido realizados para identificar se indivíduos treinados necessitam de maiores doses de proteína pós-treino ou diariamente em relação a indivíduos não treinados.
As informações existentes sugerem que atletas realizando períodos de treinamento intenso podem se beneficiar do aumento do consumo de proteína, melhorando a função do sistema imune (Witard e colaboradores, 2014). Além disso, os indivíduos que competem em levantamento de peso ou outros esportes, podem se beneficiar do aumento da ingestão protéica (Phillips e colaboradores, 2014). 
Contudo, como discutido no tópico anterior sobre as doses por refeição, as respostas de síntese protéica não aumentam muito com um consumo de 20 g ou 0,25 g/Kg peso corporal. Com isso, além de mais estudos envolvendo atletas nesse sentido, na prática, recomenda-se uma atuação multidisciplinar no planejamento do treino e dieta. 

Referências

Damas, F., Phillips, S., Vechin, F. C., and Ugrinowitsch, C. (2015). A review of resistance training-induced changes in skeletal muscle protein synthesis and their contribution to hypertrophy. Sports. Med. 45, 801–807. doi:10.1007/s40279-015-0320-0

Kim, P. L., Staron, R. S., and Phillips, S. M. (2005). Fasted-state skeletal muscle protein synthesis after resistance exercise is altered with training. J. Physiol. 568, 283–290. doi: 10.1113/jphysiol.2005.093708 

Phillips, S. M., Tipton, K. D., Ferrando, A. A., and Wolfe, R. R. (1999). Resistance training reduces the acute exercise-induced increase in muscle protein turnover. Am. J. Physiol. 276, E118–E124.

Phillips, S. M. (2014b). A brief review of higher dietary protein diets in weight loss: a focus on athletes. Sport. Med. 44, 149–153. doi: 10.1007/s40279-014-0254-y

Tang, J. E., Perco, J. G., Moore, D. R., Wilkinson, S. B., and Phillips, S. M. (2008). Resistance training alters the response of fed state mixed muscle protein synthesis in young men. Am. J. Physiol. Regul. Integr. Comp. Physiol. 294, R172–R178. doi: 10.1152/ajpregu.00636.2007

Wilkinson, S. B., Phillips, S. M., Atherton, P. J., Patel, R., Yarasheski, K. E., Tarnopolsky, M. A., et al. (2008). Differential effects of resistance and endurance exercise in the fed state on signalling molecule phosphorylation and protein synthesis in human muscle. J. Physiol. 586, 3701–3717. doi: 10.1113/jphysiol.2008.153916

Witard, O. C., Turner, J. E., Jackman, S. R., Kies, A. K., Jeukendrup, A. E., Bosch, J. A., et al. (2014b). High dietary protein restores overreaching induced impairments in leukocyte trafficking and reduces the incidence of upper respiratory tract infection in elite cyclists. Brain Behav. Immun. 39, 211–219. doi: 10.1016/j.bbi.2013.10.002

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Não tenho tempo para treinar... O que faço?

Esse post foi uma dica de quem acompanha meu trabalho, meus posts e também vejo essa queixa das pessoas na prática: como fazer uma atividade física com pouco tempo disponível?
Vamos ser sinceros, não existe falta de tempo, mas falta de organização da agenda.
- Primeiro que, quem é meu aluno ou já foi, sabe que sempre tento encaixar em algum horário do dia, caso tenha horários irregulares. Basta avisarem com certa antecedência (quando avisa em cima da hora, é por conta e risco de haver ou não horário disponível).
- Segundo, como já venho falado inúmeras vezes aqui no blog, um treino eficiente não precisa ser longo demais. Você não precisa ficar horas na academia, nem deve. Em torno de 40 minutos está ótimo. Já treinei alunos em 30 minutos (ou menos) por falta de tempo. E saíram do treino totalmente fatigados. Eu também já precisei treinar em meia hora. Então, tudo é questão de você conversar com seu professor/treinador e tentar adaptar seus horários e tempo disponíveis para o treino.


- Terceiro e uma das coisas mais difíceis: organização. Você precisa organizar seu dia para que possa treinar. Seja diminuindo o horário do almoço, seja levando tudo pronto para quando sair do trabalho. Por exemplo, deixe sempre uma roupa e tênis para treinar no carro ou no trabalho. Assim, caso você esqueça em casa, não precisará sabotar o treino, visto que terá uma reserva. Deixe pronto e leve alguma refeição ou shake pré-treino. E, se estiver muito cansado e hesitando em ir treinar, não deixe por menos, use-o. Assim, você se sentirá obrigado a ir treinar. 
Resumindo, o que vejo na prática é que a questão gira muito mais em torno de dar o pontapé, realizar algumas mudanças no dia-a-dia (mudanças sempre são difíceis, mas nada vem de graça) e conversar com um profissional que consiga gerenciar isso do que realmente falta de tempo.
Então, vamos treinar! Invista em você. Você é dono do seu tempo, não ele de você; gerencie-o!

Intervenções Nutricionais - Parte 04 - Ingestão de Proteínas e Carboidratos

A proposta da ingestão de carboidratos com proteínas é estimular a secreção de insulina e, assim otimizar a absorção dos aminoácidos. Realmente, a infusão local de insulina aumenta a síntese protéica (Hiller e colaboradores, 1998) e, quando se faz uma infusão de insulina com aminoácidos simultaneamente, há um aumento da síntese protéica e uma leve atenuação de sua degradação (Bennet e colaboradores, 1990), maiores do que a infusão ou de aminoácidos ou de insulina sozinhos.
Contudo, após um treino de força, a infusão de insulina não apresenta efeitos na síntese protéica, embora há uma leve supressão na sua degradação (Biolo e colaboradores, 1999). Børsheim e colaboradores (2004) encontraram o mesmo comportamento com a ingestão apenas de carboidratos após o treino de força, sem efeitos na síntese, mas uma atenuação na degradação protéica.


A coingestão de carboidratos com aminoácidos não provoca maiores efeitos no estímulo à síntese protéica, nem atenua sua degradação, caso a dose de proteína seja adequada (25 g) (Staples e colaboradores, 2011). Esses resultados indicam que, quando há uma dose adequada de proteína, a ingestão de carboidratos não provoca benefícios adicionais na síntese protéica. Provavelmente porque o aumento da secreção de insulina necessário para otimizar a síntese protéica seja muito baixo (Trommelen e colaboradores, 2015) (10-15 IU/mL), apenas 2 a 3 vezes os níveis basais para a maioria dos indivíduos saudáveis, o que é alcançado com uma pequena dose de proteína. Com baixas doses de proteína (por exemplo, menos que 0,25 g/kg peso corporal), a ingestão de carboidratos pode impactar a absorção protéica, aumentando os níveis de insulina e suprimindo a degradação de proteínas. 
Vale ressaltar que os autores não excluem a ingestão de carboidratos após uma sessão de treino de força para restabelecer os níveis de glicogênio muscular. Mas parece que, para otimizar a síntese protéica especificamente, uma ingestão adequada de proteínas já se mostra suficiente. 

Referências

Bennet, W. M., Connacher, A. A., Scrimgeour, C. M., Jung, R. T., and Rennie, M. J. (1990). Euglycemic hyperinsulinemia augments amino acid uptake by human leg tissues during hyperaminoacidemia. Am. J. Physiol. 259, E185–E194

Biolo, G., Williams, B. D., Fleming, R. Y. D., and Wolfe, R. R. (1999). Insulin action on muscle protein kinetics and amino acid transport during recovery after resistance exercise. Diabetes 48, 949–957. doi: 10.2337/diabetes.48.5.949

Børsheim, E., Cree, M. G., Tipton, K. D., Elliott, T. A., Aarsland, A., and Wolfe, R. R. (2004). Effect of carbohydrate intake on net muscle protein synthesis during recovery from resistance exercise. J. Appl. Physiol. 96, 674–678. doi: 10.1152/japplphysiol.00333.2003 

Hillier, T. A., Fryburg, D. A., Jahn, L. A., and Barrett, E. J. (1998). Extreme hyperinsulinemia unmasks insulin’s effect to stimulate protein synthesis in the human forearm. Am. J. Physiol. 274, E1067–E1074. 

Staples, A. W., Burd, N. A., West, D. W. D., Currie, K. D., Atherton, P. J., Moore, D. R., et al. (2011). Carbohydrate does not augment exercise-induced protein accretion versus protein alone. Med. Sci. Sports Exerc. 43, 1154–1161. doi:10.1249/MSS.0b013e31820751cb

Trommelen, J., Groen, B., Hamer, H., de Groot, L. C. P. G. M., and van Loon, L. J. (2015). Mechanisms in endocrinology: exogenous insulin does not increase muscle protein synthesis rate when administrated systemically: a systematic review. Eur. J. Endocrinol. 173, R25–R34. doi: 10.1530/eje-14-0902