quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Esclarecendo alguns equívocos

O maior problema dos culturistas, sobretudo nos avançados, é a errada interpretação de alguns conceitos básicos do treinamento. Esta confusão se deve à falta de compreensão ou também completa ignorância sobre alguns princípios da fisiologia do exercício. Então para obter melhores resultados nos treinos, devemos estudar mais profundamente.
Uma vez feito isto, podemos estruturar nossa rotina de exercícios e fazê-la de forma mais eficiente.
Inúmeras pessoas entram dia após dia nos ginásios durante muitos meses, às vezes anos, sem poderem apreciar resultados importantes. A princípio, as melhoras aparecem, mas devido ao entusiasmo, pelo que observam em alguns artigos escritos em revistas pelo campeão da moda e, algumas vezes, pelos conselhos de um pseudo-instrutor, aumentam consideravelmente a quantidade de exercício e aí começam a manifestarem os problemas. Afinal, se três séries para um exercício proporcionavam certo resultado, por que seis séries não proporcionavam o dobro do resultado? Ou pode-se ouvir também: “estás treinando pouco, terás de aumentar as séries para, pelo menos, 20 em grupos musculares grandes e 10 para os pequenos!”. Alguns podem ter decido fazer uma rotina dividida em quatro dias e os resultados obtidos? Nenhum.
As únicas coisas que obtiveram foram dores articulares, musculares, insônia, falta de apetite e muitos outros males. Obviamente, pensa-se que essas dores são porque se está treinando bem.
Ainda seguindo sem resultados, o professor conclui que não se está treinando o suficiente, então aumenta os dias de treinamento para seis dias por semana, aumentando também as dores, falta de apetite, insônia e também as frequência cardíaca de repouso.
Ao consultar o professor, este diz que a culpa é da péssima genética.
Quando se faz uma série de doze repetições até o ponto de falha muscular, descansa e depois mais uma série até o ponto de falha, se consegue umas sete repetições. Na terceira série, a falha ocorre pela terceira repetição. Então, como algumas pessoas podem aumentar ainda mais o peso série após série?
Casey Viator, mais um culturista treinado por Arthur Jones nos moldes de seu método, "High intensity Training".


A resposta é simples, quando se treina com intensidade e cada série é lavada até o ponto de falha muscular, o músculo trabalhado chega ao total esgotamento, então todas as séries posteriores servem para diminuir a capacidade de recuperação, não somente do músculo, mas de todo o corpo.
Quando se pergunta a algum professor quantas séries devemos fazer para tal músculo, dá-se uma cifra, normalmente 20 e muitos vão a fazer as vinte séries por grupo muscular. Mas, por que 20?
Caso deseja-se colocar um quadro na parede, usa-se um martelo, não um canhão. Isso explica sucintamente o princípio de causa e efeito. O efeito do golpe de martelo ocorre da mesma maneira que o desenvolvimento muscular causado pelo treinamento com pesos. Contudo, quando não obtemos o efeito desejado e buscamos uma resposta, os que nos digam “eu creio que é assim”, não tem validade.
Crer em algo é uma questão relativa, como podemos crer em qualquer coisa, o aumento de massa muscular é uma resposta específica do corpo a um estímulo específico, quando não desenvolvemos é porque não estamos fazendo bem as coisas e não porque nosso corpo não está geneticamente capacitado para tal desenvolvimento.
Tudo isso tem uma resposta lógica e científica, o corpo humano tem uma capacidade de reserva limitada e, quando o trabalho que fazemos na sala de musculação ultrapassa essa capacidade, entramos em overtraining e isto é não treinar bem, já que não obtemos o efeito que buscamos de uma coisa que pensamos ser correta.
A realidade nos indica que o princípio de causa e efeito permanece inalterado; o overtraining é o efeito causado pelo excesso de treinamento e tomar consciência de que estamos cometendo um erro já é o passo em rumo a sua correção, assim podemos obter os resultados que esperamos.

Marago, Roberto
Heavy Duty, aplicación practica de la alta intensidad em el fisicoculturismo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Resultados

Mais um motivo por amar o que faço e contribuir para mudanças na vida das pessoas. Observem a transformação de mais um aluno meu na foto abaixo. Ele estava com 147 Kg e, no momento da foto, estava com 106. Nesse momento, em que estou colocando essa postagem, ele está com 103 Kg. Queremos chegar em 80 Kg. Ainda há um bom caminho pela frente, mas para quem já chegou até aqui. Começamos em março, a foto foi tirada agora em setembro. É apenas continuar com a mesma persistência, disciplina e obstinação.
Parabéns ao meu aluno, afinal, o maior esforço é dele! Pois, como sempre digo, não existe receita mágica, caminho mais curto ou uma fórmula secreta. Muitos tentam o caminho mais fácil e milagroso, mas no final, a maioria sempre acaba se convencendo do caminho real e que traz resultados verdadeiros e duradouros: treino, dieta e disciplina. Então, desde demorarem tanto tentando emagrecer com os "milagres", poupe seu tempo e sua vida, tenha foco, trace um objetivo, acredite que irá conseguir chegar lá e procure ter ao seu redor profissionais competentes e capacitados.
Abraço a todos

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Agora, mais vídeo. Dessa vez, demonstrando um treino de força com oclusão vascular, utilizando, claro, os princípios do treino de força de alta intensidade (HIT). Utilizei uma técnica de pré-exaustão, onde fiz um exercício localizado para bíceps (rosca scott) seguida de uma roldana supinada. A idéia de não puxar totalmente na roldana supinada é ativar o menos possível a musculatura dorsal e concentrar o máximo possível no bíceps, mantendo-o sob tensão constante.
Confiram:


Filmagem: Prof. Eládio
Agradecimento: Body One Club
Abraço

Treino de força com Oclusão Vascular

Treino de força com Oclusão Vascular

Sabe-se que o treino de força é um dos meios para ativar fibras musculares brancas (tipo II), que possuem um maior potencial para hipertrofia (McDonagh et al., 1984). Porém, além das contrações concêntricas e isométricas, outra maneira de ativar essas fibras musculares é o processo isquêmico (Takarada et al., 2001). Ou seja, provocando no músculo um ambiente com restrição de circulação sanguínea e consequente baixa oferta de oxigênio.
Alguns estudos têm demonstrado que treino de força com oclusão vascular aumenta a resposta hormonal de hormônio do crescimento (Gh), além de aumentar a atividade elétrica dos músculos durante o exercício e as concentrações de lactato. No entanto, a oclusão vascular mostra-se útil apenas em cargas mais baixas (aproximadamente 50% 1RM – uma repetição máxima). Em cargas mais altas, como em 80% RM, parecem não haverem diferenças significativas com ou sem esse recurso. No que se refere a aumentos na massa muscular, cargas mais baixas com oclusão vascular (50% RM) resultam em hipertrofia muscular similar a cargas mais altas (80% RM) (Takarada et al., 2000).
Há algumas especulações sobre as causas dos efeitos da oclusão vascular no processo de hipertrofia. Uma delas é uma maior ativação das fibras do tipo II (com maior potencial hipertrófico), devido ao aumento das concentrações de lactato (que inibe a contração das fibras musculares, obrigando o corpo a recrutar mais fibras no mesmo nível de geração de força (Moritani et al, 1992)). Outro fator a se considerar é a resposta hormonal. Kraemer e colaboradores (1990) demonstraram que o exercício de alta intensidade em grandes grupamentos musculares aumenta os níveis de hormônio do crescimento por volta de 100 vezes em relação aos níveis basais. Especula-se que o acúmulo de subprodutos metabólicos estimule a secreção, na hipófise, de Gh. Utilizando oclusão vascular em baixa intensidade (20% RM), observou-se um aumento de 290 vezes nas concentrações plasmáticas de Gh.
A oclusão vascular provoca também aumento na produção de radicais livres, assim como aumento em algumas enzimas detoxicantes, como xantina oxidase, além de interleucinas (IL-6). Em alguns tecidos, como o cardíaco, pode provocar sérias lesões. Porém, como resposta ao treino de força, agindo de maneira localizada no músculo, contribui para o processo de hipertrofia (Hellsten et al, 1996).
Observa-se que os resultados com oclusão vascular parecem se evidenciar em cargas mais baixas, o que seria muito interessante em populações debilitadas ou com algumas limitações. Alguns estudos não demonstraram vantagens na utilização dessa técnica em cargas mais altas. Porém, mais estudos necessitam ser realizados focando outras variáveis, como produção de radicais livres, óxido nítrico; liberação de hormônio do crescimento, testosterona, entre outros, tanto em cargas altas como em cargas baixas. Pois, como descrito acima, esses fatores também contribuem para o processo de hipertrofia muscular.
Em cargas mais altas, a tensão muscular é em maior magnitude, sobremaneira quando se utiliza 100% de intensidade, ou seja, até a fadiga muscular, caracterizada pela incapacidade de realizar o movimento com técnica correta. Provocando oclusão vascular, o processo isquêmico pode se evidenciar ainda mais. Por isso, de preferência, deve certificar-se se a amostra realmente tenha alcançado a fadiga muscular. E esse é um de meus cuidados quando leio os resultados de algum artigo. Na prática, sempre observo algumas características que possam confirmar se meu aluno chegou a 100% de intensidade na série. E, para isso, deve-se prestar muita atenção, porque o aluno, muitas vezes, sempre tenta não chegar aos seus 100%. E isso é fisiológico e natural, afinal o corpo tenta se defender contra um estímulo que pode provocar algum estresse. Estresse esse, porém, que resulta em aumentos de força e hipertrofia musculares.



Referências:

Kraemer WJ, Marchitelli L, Gordon SE, Harman E, Dziados JE, Mello R, Frykman P, McCurry D, and Fleck SJ. Hormonal and growth factor responses to heavy resistance exercise protocols. J Appl Physiol 69: 1442–1450, 1990.

McDonagh, M. J. N., and C. T. M. Davies. Adaptive response of mammalian skeletal muscle to exercise with high loads. Eur. J. Appl. Physiol. 52: 139–155, 1984.

Moritani T, Michael-Sherman W, Shibata M, Matsumoto T, and Shinohara M. Oxygen availability and motor unit activity in humans. Eur J Appl Physiol 64: 552–556, 1992.

Takarada, Y.; Sato, Y.; Ishii, N. The effects of resistance exercise combined with
vascular occlusion on muscle function in athletes. Eur J Appl Physiol (2002) 86: 308–314

Takarada, Yudai, Haruo Takazawa, Yoshiaki Sato, Shigeo Takebayashi, Yasuhiro Tanaka, and Naokata Ishii. Effects of resistance exercise combined with moderate vascular occlusion on muscular function in humans. J Appl Physiol 88: 2097–2106, 2000.

Takarada Y, Nakamura Y, Aruga S, Onda T, Miyazaki S, and Ishii N. Rapid increase in plasma growth hormone after low-intensity resistance exercise with vascular occlusion. J Appl Physiol 88: 61–65, 2000.

Hellsten Y, Hansson H-A, Johnson L, Frandsen U, and Sjodin B. Increased expression of xanthine oxidase and insulinlike growth factor I (IGF-I) immunoreactivity in skeletal muscle after strenuous exercise in humans. Acta Physiol Scand 157: 191–197, 1996.